Quem nunca acordou na madrugada com fome e foi “assaltar” a geladeira? Isso é uma prática muito comum. Embora pareça normal, esporadicamente não apresenta risco à saúde. No entanto, se está ligado a outros problemas pode indicar a presença de um transtorno alimentar chamado de “síndrome do comer noturno“.
Essa fome repentina durante a noite não é só vontade, mas é um sinal de alerta podendo comprometer a saúde. Continue sua leitura e entenda como isso ocorre.
O que é a síndrome do comer noturno?
A Síndrome do Comer Noturno (SCN) é um transtorno alimentar identificado pela primeira vez no ano de 1955, mas passou a integrar oficialmente o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) apenas em sua quinta edição, na categoria de “Outros Transtornos Alimentares Especificados”.
A nutricionista do Departamento de Alimentos e Nutrição da UFSM, Greisse Viero da Silva Leal disse a revista Arco da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) que, embora tenha ganhado reconhecimento clínico, os critérios para o diagnóstico da SCN ainda faltam definição precisa, especialmente em relação à frequência e à duração dos sintomas.
Conforme descrito no DSM-5, a SCN se caracteriza por episódios repetidos de ingestão alimentar durante a noite, que podem ocorrer tanto após despertares quanto como um consumo excessivo de alimentos no período pós-jantar.
Qual a razão da fome noturna?
Imagem: Freepik
De acordo Mário Carra, diretor do departamento de obesidade da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), “a fome noturna é o fruto da escolha inadequada de alimentos ou um hábito praticado por muito tempo. Também acontece devido a questões pessoais que envolvem estresse, ansiedade ou qualidade de sono ruim”, relata.
Uma dieta desequilibrada e pobre em nutrientes levam a oscilações dos níveis de glicose e desencadeia a fome. A prática de atividades intensas e alterações hormonais leva ao aumento de cortisol devido ao estresse estimulando a fome noturna.
Estudos científicos
Um estudo publicado na Revista de Nutrição, conduzido por pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), destaca que essa síndrome está relacionada à desregulação do ritmo circadiano, alterações hormonais (como níveis reduzidos de melatonina e leptina) e fatores emocionais, como estresse e ansiedade.
Além de afetar a qualidade do sono, a SCN tem forte associação com obesidade e transtornos de humor. O estudo também discute abordagens terapêuticas, como o uso de melatonina, fitoterápicos e psicoterapia, embora reforce que ainda são necessárias mais evidências para tratamentos eficazes. Esses achados ajudam a entender por que muitas pessoas sentem fome intensa à noite e como isso pode estar ligado a processos biológicos e psicológicos mais complexos do que se imagina.
Existem consequências dessa prática?
O hábito de comer durante a noite, especialmente de forma recorrente e desregulada, pode trazer diversos riscos à saúde física e mental. Esse comportamento favorece o ganho de peso e o desenvolvimento de obesidade, o comer noturno está associado a alterações no metabolismo, como resistência à insulina e maior risco de diabetes tipo 2. Também pode provocar desconfortos gastrointestinais, como refluxo e má digestão, uma vez que o sistema digestivo funciona mais lentamente nesse período.
Do ponto de vista psicológico, esse comportamento alimentar está frequentemente ligado a quadros de ansiedade, depressão e distúrbios do sono, criando um ciclo vicioso de má alimentação e insônia. Por isso, quando o comer noturno se torna frequente e afeta a qualidade de vida, é fundamental buscar acompanhamento profissional.
Veja o que diz a Dra. Claudia Cozer Kalil ao canal da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica):
Tratamento
É importante aplicar uma abordagem multidisciplinar, envolvendo profissionais como nutricionistas, médicos e psicólogos, já que o transtorno afeta tanto o corpo quanto a mente. A abordagem mais eficaz combina intervenções comportamentais, nutricionais e, em alguns casos, farmacológicas. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem se mostrado útil, ajudando o paciente a identificar gatilhos emocionais, melhorar sua relação com a comida e reorganizar seus padrões de sono e alimentação.
Reequilibrar as refeições ao longo do dia, com foco no café da manhã e no controle da ingestão noturna também é uma estratégia eficaz. Em casos específicos, o uso de melatonina, antidepressivos ou outros medicamentos pode ser indicado para regular o sono, o humor e o apetite, mas sempre com prescrição médica. A prática regular de exercícios físicos, a redução do estresse e a criação de uma rotina de sono saudável são práticas complementares fundamentais no tratamento da SCN.
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